quinta-feira, 12 de março de 2015

Bonança



Sobre o que começar a falar depois de tantas emoções? Sobre o que começar a falar a falar depois de três meses de blog esquecido?  Mas só esquecido, não abandonado. É que a vida às vezes, carente de acontecer pede um pouco mais de atenção, clama por passagem. E aí ao invés de trocar e-mails a gente toca a campainha, as figurinhas e os emoticons dão lugar a sorrisos reais e abraços apertados.
Sobre o que falar quando preciso contar que revi pedaços de mim que estão espalhados, que pintei os dreads de rosa, que fui voluntária em fazendas de produção orgânica, que ajudei a fazer uma parede de barro, que pedi demissão da vida burocrática e resolvi trabalhar de pijama curtindo, todos os dias, a chuva de verão de refresca os fins de tarde.
Então vou falar da amizade, pois foi ela que me moveu um semestre inteiro e foi responsável por um mês inteiro de emoções dilacerantes e experiências de vida que nunca serão esquecidas e que foram verdadeiras lições para minha evolução. Aproveito esse post, para transformá-lo em carta aberta, em declaração de amor e agradecimento aos meus queridos amigos que me receberam de braços abertos e àqueles outros que não pude abraçar, mas ainda sim são grandes amores.
Sabe aquelas pessoas que você conhece numa nuvem de tempestade passageira? Aquelas tempestades que arrasam tudo, mas que duram apenas alguns minutos? Seus estragos são tão grandes, apesar da rapidez de seu acontecimento, que mesmo depois de anos ainda é possível ver cicatrizes na cidade. Essas pessoas foram tempestades em minha vida. Chegaram, quebraram tudo e de repente todos se foram, inclusive eu. Mas essa quebradeira foi uma feliz catástrofe. Um bum de emoções, certo?
Depois de anos, ainda somos os mesmos apesar de termos mudado tanto. Mais de quatro anos se passaram e quando nos sentamos foi como se estivéssemos na mesma mesa de bar na noite passada e só foi preciso um, onde a gente parou mesmo? Olhos marejados, olhos curiosos, olhos amorosos, olhos de gratidão e acolhimento. Muitos olhos sorrindo ao mesmo tempo, não era a toa que éramos a mesa mais bonita do bar.
O tempo era curto. O tempo é sempre curto e não importa quanto tempo tenhamos, ainda será pouco. Mas tudo bem, por que nem sempre o coração aceita muito tempo. A cidade já era suficiente para despertar quase dez anos de histórias e mesmo se não houvesse histórias, a loucura da metrópole em si já é uma orquestra de metais e surdos que leva qualquer batimento a loucura!
Pra cada canto uma história, pra cada história um arrepio, pra cada arrepio um olho cheio d’água. Desculpa São Paulo, mas você já é demais pra mim. Quem sabe um dia, se eu conseguir me equilibrar mais, se eu conseguir transcender mais, talvez eu volte... um dia eu volto... mas sinceramente São Paulo, não quero voltar. Gostaria de ver-te sorrindo, com sua garoa de volta, mas ah pobre Sampa... como judiam de você minha querida. Como suas ruas ficam cada vez mais duras de suportar. Volto por que a amizade grita de tempos em tempos, mas daqui algum tempo, talvez nem as amizades estejam contigo mais São Paulo e de você levarei o cheiro de vida vivida.
E aí a gente vai criando cada vez mais lugares legais pra visitar e o Brasil vai virando um mapa do tesouro, onde cada amigo é um tesouro e de tempos em tempos você vai atrás de algum diamante bruto perdido em algum cantinho. Nessa caminhada encontrei dois ilhados num mundo regidos por felinos selvagens que dão vida ao sonho de ser mais inteiro, de ser mais leve, de ser mais humano. O sonho que rasteja por tijolos improvisados e folhas de couve orgânica. Nunca foi tão lindo capinar um terreno. Nunca foi tão lindo o suor que escorria em minhas costas, suor de trabalho feito com puro amor, respeito e admiração pelo sonho que engatinha.
Depois de duas semanas, já estava exausta. Já me sentia tão grande, já estava com tanta gratidão por tudo que havia acontecido, estava tão emocionada com tudo que eu havia revisto e com os abraços que há tanto esperava, que um desespero de voltar pra casa invadiu meu corpo cansado. Obrigada, era só o que eu podia dizer e se tudo acabasse ali, acabaria com chave de ouro. Mas ainda havia chão, havia muita terra pela frente e segui meu caminho atrás de pessoas que, como nós, também estão atrás de novas formas de vida.
E aí explodi. Explodi num redemoinho de histórias e encontrei pessoas que como eu abandonam tudo por uma vida mais simples, deixam tudo pra trás por momentos mais humanos, por experiências mais verdadeiras, por ideais mais existenciais e menos comerciais. E pude trocar experiências e renovar as forças, pois viver assim em uma sociedade fundamentada no ter, não é tarefa das mais fáceis. Mas também não seria eu se eu pegasse o caminho “mais fácil”.
Foi então que chorei. Chorei e pedi casa. Chorei e voltei correndo. Até abandonar tudo tem hora, e não era hora ainda. Mas essas pessoas nos fazem, não só acreditar, mas nos dão certeza que dá certo abandonar caminhos pré-estabelecidos, que você não escolheu seguir por conta própria. E antes que a vontade se tornasse plano, voltei. Voltei para meu porto seguro, para minha casa, para meu reino. Para me recompor de toda bagunça que as viagens causam em minha cabeça (mesmo por que minhas viagens são sempre cabalísticas e antropológicas) e mais uma vez recomeçar e sair da zona de conforto, se é que um dia eu entrei nela...
Mas voltei pra minha vida satisfeita de ver tudo e todos que vi e revi. Satisfeita de poder ter tocado naqueles que estão sempre no meu mundo virtual, satisfeita de depois de tanto tempo longe e às vezes quase sem notícias, ainda ter profunda admiração por todos vocês. Sabe quando usamos a expressão, fulano não me representa, ou tal coisa me representa, bem, posso dizer que vocês me representam e que se alguém quiser saber do que sou feita, por que aqui poucos realmente me conhecem, bastava passar um dia com vocês queridos meus.
Obrigada pela acolhida, pelas camas quentinhas, pelos cantinhos arrumados, pelas comidinhas, brejas, conversas noite adentro, caronas, desabafos, trocas, emoções e histórias para a vida inteira. Espero vê-los mais breve dessa vez. Amo vocês.
Por que depois da tempestade, sempre vem a bonança e depois da tempestade ganhei amigos para a vida inteira. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário