terça-feira, 22 de outubro de 2013

Geração Rivotril

    Renato Russo eternizou toda uma geração chamando-a de "Geração Coca-Cola". Geração calça jeans da Lee, All Star no pé e camisa branca da Hering. Liberdade, cabelos aos ventos sem medo de serem encaracolados, ruivos ou black power. Geração cinema, rock´n roll.
    Hoje a nossa geração de jovens pode ser chamada de "Geração Rivotril". Estamos cada vez mais ansiosos, nervosos e sedentos de produzir. Nossos amigos já estão casando, alguns tem filhos e outros tem sua própria empresa. Todos andam com seus tablets na mão ou celulares de ultima geração e ficam trocando mensagens instantâneas o dia todo, mesmo que este amigo esteja sentado ao lado. 
    Você não usa what´s up?? Mas seu celular não tem wi-fi?? Sua internet não baixa os vídeos do YouTube direto? E essa roupa? Ficou um ano e meio na Europa e continua usando as mesmas roupas velhas de quando ainda estava por aqui? Você não tem instagram???? Como você vive????
     Nossa geração vem de um movimento muito progressista. As cidades precisam crescer, mesmo que desordenadas para poder abastecer os carros que ficam cada vez mais fáceis de comprar (mas difíceis de pagar depois). As casas antigas precisam ser derrubadas para dar lugar a prédios altíssimos, com apartamentos minúsculos para enfiar toda essa gente e para dar lucros àqueles que ficam com a maior parte do nosso todo.
    Hoje em dia temos, não só que ter faculdade, hoje faculdade é o ensino médio de antigamente. É necessário termais. Faça mestrado, doutorado, pós, se especialize, vá a seminários, publique artigos, faça algo pelo meio ambiente, pois a "culpa é sua" e não das grandes empresas que poluem rios, hidrelétricas que mutilam a natureza, mudam o clima e disseminam vilas e cidades inteiras.
    Não fazer nada é quase um desacato. Mesmo você chegando tarde do trabalho, mesmo depois de ainda ter ido à faculdade, você chega em casa e se sente culpada se se jogar no sofá e assistir o pior programa televisivo da rede aberta pra descansar a mente. Não! Vá lavar a roupa, a pia está cheia de louça, a casa está uma zona, tem trabalho pra entregar amanhã! 

    AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

    E assim, pouco a pouco vamos enlouquecendo. Nosso corpo vai reagindo e tentando suprir toda essa necessidade extrema de energia que pedimos. Tentamos tanto e por tanto tempo resolver nossos problemas, nos tornarmos independentes, temos que ganhar muito dinheiro, por que somos bombardeados por todos os lados que a felicidade se reduz a sapatos, roupas, jóias, carros, viagens caras, computadores de ultima geração. 
    E se você não tem essas coisas, acaba sendo reduzido pela sociedade. Se torna à margem disso tudo. Um índio, um hippie, um ermitão. E na verdade você só quer viver tranquilo, sem ser estrangulado pela burocracia, ganhar o que precisa para comer, beber, pagar as contas, ter o seu lazer, poder convidar seus amigos para um churrasco. A vida é simples, mas a sociedade gananciosa não quer pessoas simples, pois pessoas simples não dão lucro. 
      Nossas crianças já nascem com um celular na mão, vão à escola e além disso tem que fazer natação, judô, ballet, inglês, espanhol. Tive um aluno que com com 9 anos reclamava da sua gastrite. Desde de quando uma criança precisa chegar a tal ponto de pressão familiar e social para ter gastrite?
     Mas estamos muito sujos dessa vida corrida que nos impõe. Os carros passam por cima, as pessoas gritam no transito, pessoas se matam por bobagem. O mundo está estressado.
      Aos poucos temos que nos rever e nos desconstruir com uma amiga linda escreveu em Agosto. Temos nos deixar em pedaços e rever o que precisamos para que a nossa vida tenha qualidade. Talvez aquele curso que vc está fazendo por pressão de ter mais um certificado esteja te levando para um outro rumo ou esteja tomando um tempo que você poderia estar com você mesma ou fazendo algo que realmente sinta prazer.
     A sociedade não quer que sentimos prazer, quer produção, dinheiro, lucro. E quando atingimos a depressão é por que lutamos em demasiado e lutamos demasiado sozinhos. Por que na sociedade em que vivemos, pedir ajuda é fraqueza, quando na verdade é um ato de muito coragem.



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