terça-feira, 22 de outubro de 2013

Perdoem-na




     Não aprendeu o meio termo. Não aprendeu a moderação. Foi criada por italianos cascudos que não aprenderam a dizer eu te amo. Dos exemplos o irmão sempre foi o mais exemplar, mas talvez por que também não aprendeu a sentir os sentimentos pelo lado de fora. A mãe passou a vida desdobrando suas vísceras em acessos infinitos de bondade e preocupação. O pai, nunca chorou, talvez por isso não tenha mais vida por dentro. 
      Os sentimentos escondidos o comeram e hoje a comem devagar, apesar das agulhas para acalmar o impulso de vida que pulsa sem saber para onde. Não aprendeu como controlar a vontade de ser todas ao mesmo tempo. Não aprendeu a esperar. Não aprendeu a concluir. Não aprendeu a frear as incapacidades, tornando-as maiores do que deveriam ser. Acho que talvez, não aprendeu a amar. Por isso a perdoem, meus leitores, se acaso certas atitudes de nossa anti-heroína os decepcionar de acordo com que seu corpo toma forma e as sardas a tornem cor de ferrugem, pois até hoje não aprendeu a usar filtro solar. 
     Não a recriminem se suas atitudes em certas épocas de sua vida forem impulsionadas pelo agora sem levar em conta a lista de pós e contras que analistas financeiros aconselham antes de qualquer planejamento. Não aprendeu a planejar. A vida nem sempre espera o orçamento de certas atitudes. Não a recriminem leitores, se por vezes praguejar ódio a quem sabeis que ama. Aprendeu que muitas vezes o grito de ódio é apenas um grito camuflado de súplica, de socorro. O que não aprendeu é quem nem todos conseguem traduzir grunhidos escaldados de quem viveu por dentro. 
       Não desistam meus leitores, de continuar a leitura, pois aos poucos, ela aprendeu que não aprendeu, e aos poucos ela tenta aprender a viver do lado de fora.    
          Desde já, entendam que, quando grita que não precisa de ninguém é por que seu coração suplica por aquela mão doce que corre o rosto sem perguntar por quê. Nossa personagem meu leitor é aquela que toda de preto, bancando banca de indiferente escuta a mesma música romântica da adolescência, enquanto faz cara de impenetrável com medo que outros descubram quão frágil é a matéria feita de seus órgãos. 
        Se usa óculos escuros é na intenção de esconder as lágrimas que ultimamente surgem sem aviso, sem autorização. Às vezes, enquanto encara o ônibus lotado de almas emborrachadas, pensa se passou a vida vivendo sua vida, a vida de seus sonhos ou a vida dos outros. A perdoem leitores, por não saber de nada, por não ter nada nas mãos, por aparecer sempre de bolsos vazios. A perdoem meus leitores pelas roupas surradas e pelos calçados furados. A perdoem pelos cabelos cortados na pia em noite de lua crescente. A perdoem leitores por não conseguir desligar os sentimentos, dos sentimos do mundo. A perdoem por sua ignorância e por sua busca quase ridícula por conhecimentos que não estão escritos. A perdoem por hoje, ainda estar perdida na mesma ignorância. A perdoem se não consegue vender cosméticos. A perdoem se não consegue enriquecer a custo de sua sanidade. A perdoem meus leitores, por ser artista. A perdoem principalmente por não ter aprendido a amar de forma calma. A perdoem se um dia amou em silêncio. A perdoem se amou na fissura
       A perdoem, meus leitores, ela ainda não sabe o que faz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário